Se é pra existir uma monarquia, seria ótimo que essa família pelo menos fosse mais moderna e levantasse pautas mais relevantes.
Entrevista com a autora de Conectadas e Romance Real
ENTREVISTA: Clara Alves fala sobre seu novo livro, Romance Real
Depois do sucesso de Conectadas, Clara está de volta e agora tem 2 livros na lista de mais vendidos
O novo livro de Clara Alves, Romance Real, lançado no dia 31 de maio, estreou na 13ª posição na lista Nielsen-PublisNews. Com Conectadas ocupando a 3ª posição na mesma lista, Clara agora tem duas obras que falam do amor entre garotas entre os livros mais vendidos do Brasil.
Se o sucesso de Conectadas já havia encantado leitores, Romance Real começa sua trajetória fazendo jus ao antecessor. Após o lançamento, bastava entrar nas redes sociais da autora para ver a quantidade de menções de leitores exibindo com orgulho a capa do novo livro. Cenário que segue se repetindo, agora, com resenhas e feedbacks sobre a história. O que a gente achou você lê aqui.
Conversamos com Clara Alves sobre Romance Real, expectativas e alguns elementos que fazem parte da narrativa.
Cadê LGBT: A música está presente em Romance Real de diversas maneiras, não são poucas as vezes em que Dayana menciona estar ouvindo sua playlist. Você tem uma relação próxima assim com a música? Quais foram as que você acredita mais ter ouvido durante o processo de escrita dessa história?
Clara Alves: É engraçado, porque eu não sou de escutar muita música, no sentido de quantidade, mas eu tenho minhas músicas de conforto e as que eu ouço várias e várias vezes até enjoar. Quando eu tô triste, quando tô feliz, tem sempre a música certa pra ouvir nesses momentos. E pra escrever também. A música me ajuda a criar um ambiente propício pra minha imaginação, pra fazer a cena fluir. Com Romance real, eu tive uma playlist de 15 músicas — e não, nem todas eram da One Direction, apesar de terem 3 músicas deles que meio que moveram a história inteira: Diana, Infinity e End Of The Day. Mas a playlist também inclui Hero, do Family of the Year, que foi a trilha da conversa final da Diana com o pai, e Best Part, da H.E.R., que é citada na cena do piquenique. Vocês podem ouvir a playlist completa aqui.
Cadê: Conectadas é um sucesso gigante. Em algum momento durante a escrita de Romance Real você ficou apreensiva de que ele não fosse ter uma recepção tão grande quanto seu antecessor?
CA: E como! Provavelmente foi um dos motivos que mais me travaram durante a escrita. Se por um lado eu amo Romance real e acredito piamente nessa história e no potencial dela, eu também sei que o mercado e a recepção do público são inconstantes e impossíveis de prever. Eu morria de medo de criar muitas expectativas e me frustrar, fora a pressão de não decepcionar aqueles que esperavam tanto de mim. Tem sido um trabalho constante me dizer que cada livro tem sua trajetória e lembrar que Conectadas também não teve um sucesso de cara. Eu precisei batalhar tijolo por tijolo de tudo que conquistei até agora, e com Romance real não vai ser diferente, por mais que o sucesso de Conectadas com certeza tenha me ajudado a começar de um ponto de partida mais avançado.
"Se é pra existir uma monarquia, seria ótimo que essa família pelo menos fosse mais moderna e levantasse pautas mais relevantes para a nossa sociedade."
Cadê: Se você pudesse trazer um elemento do universo que você criou para a escrita de Romance Real para a nossa realidade, qual seria? Não vale dizer a volta da One Direction!
CA: Poxa vida! Aí você me quebra, hahaha. Acho que a família real, então? Se é pra existir uma monarquia, seria ótimo que essa família pelo menos fosse mais moderna e levantasse pautas mais relevantes para a nossa sociedade.
Cadê: Dayana é uma protagonista com uma personalidade muito forte, durante a história ela bate de frente com muitas pessoas. Quais os principais desafios ao fazer uma personagem complexa dessa maneira desenvolvê-la de uma maneira que ela não tenha se tornado insuportável?
CA: Não sei se todos os leitores concordam que ela não seja insuportável, maaas... Acho que o maior desafio de escrever a Dayana é que ela provavelmente é a minha protagonista mais diferente de mim mesma. Ela é desbocada, impulsiva e muito estressadinha (essa última talvez eu seja um pouco). Mas acredito que o que ameniza sua personalidade forte é justamente sua história. Não só o fato de ela ter motivos muito palpáveis para agir como age — a morte da mãe, o abandono do pai —, mas também porque, quando ela está com a Diana, vivendo esse romance tão singelo, é quando ela mais mostra sua verdadeira essência. E tal como aconteceu com a Raíssa em Conectadas, o leitor começa a relevar certas escolhas da personagem porque entende quem ela é quando sua vida não está de cabeça pra baixo.
Cadê: Mesmo sendo um livro leve, ele fala muito sobre luto. Quais foram os principais desafios quando você se propôs a escrever sobre esse assunto sem se deixar levar para um lado mais pesado ao falar sobre a morte da mãe de Dayana?
CA: É engraçado porque a história sempre se mostrou assim pra mim. Envolvendo assuntos pesados como o luto e o abandono parental, mas sem cair tanto pro drama. Acredito que a personalidade da Dayana é algo que tenha ajudado muito a amenizar a história; o fato de ela ser tão afrontosa e estressadinha deixa a coisa toda mais cômica. E é claro, o romance mais conto de fadas dela e da Diana também foi uma escolha proposital pra contrapor toda a carga mais pesada do enredo da Day.
“Todos nós, em algum momento da vida, vamos nos sentir perdidos. Acho que isso é tão natural quanto respirar.”
Cadê: Apesar da palavra romance estar no título da sua história, Romance Real, pelo menos na minha visão, é muito mais sobre o desenvolvimento de relações familiares e de confiança do que sobre o romance em si. Isso foi um objetivo desde o início ou foi algo que cresceu durante a escrita?
CA: Eu diria que talvez não tenha sido o objetivo quando a história foi concebida, mas desde que comecei a escrever foi assim que ela se apresentou pra mim. Romance real sempre foi sobre o desenvolvimento da Dayana, e é por isso que, diferentemente de Conectadas, esse livro é narrado apenas pela Day. Aqui, ela é a protagonista, e a Diana, o par romântico. Tanto é que na edição eu tive que acrescentar mais cenas de romance até.
Cadê: Diana é misteriosa desde o início e seu segredo é um ponto de virada importante na história. Em algum momento você pensou em torná-la uma pessoa diferente ou com um background diferente?
CA: Pior que não! Esse toque de conto de fadas sempre foi algo que moveu a história. Afinal, a ideia inicial do livro surgiu enquanto eu assistia o casamento real. Eu queria que isso ficasse, mas provavelmente foi um dos pontos do livro que mais me travou. Entender como encaixar isso na história sem parecer fantasioso demais ou bobo não foi nada fácil.
Cadê: Você consegue dizer quantas vezes revisitou o repertório da One Direction durante a escrita?
CA: A maioria das pessoas fica chocada quando eu conto que não era fã da One Direction quando escrevi o livro. Eu conhecia pouquíssimas músicas deles e conheci algumas outras por indicação de uma amiga quando comecei a última versão. Então as músicas que ficaram no meu repeat foram Diana, End Of The Day, Infinity e Story Of My Life. Quando o livro voltou da edição, porém, uma das sugestões da minha editora foi incluir mais coisas da 1D. Foi a partir daí que comecei a ir atrás de coisas sobre os integrantes e ficar obcecada com a One Direction. Desde setembro, é basicamente o que tem tocado no meu repeat, junto com as músicas de carreira solo dos integrantes.
Cadê: O Harry's House foi lançado há pouco tempo. Como você acha que Dayana reagiu ao ouvir o álbum? Ela obrigou Diana a ouvir também?
CA: Ela com certeza surtou, brigou com quem ouviu o álbum vazado, ficou esperando o dia 20 de maio ansiosa (ela considerou o lançamento do álbum como um presente de aniversário, já que faz dia 29) e fez a Diana ouvir e reouvir mil vezes. A Diana implicou, zombou, mas se pega cantarolando as músicas quando tá sozinha (a verdade é que ela amou o álbum, mas nunca vai admitir).
Cadê: Por fim, gostaria de agradecer por ter criado uma história leve, divertida com personagens cativantes e um romance avassalador. De certa forma, Romance Real é um conto de fadas que transmite uma gama de sentimentos maravilhosos para quem o lê, você tem algum recado para quem, assim como a Dayana, está se sentindo perdido e no início do seu próprio clichê?
CA: Todos nós, em algum momento da vida, vamos nos sentir perdidos. Acho que isso é tão natural quanto respirar. A vida é feita de muitos caminhos, muitas possibilidades e muitas reviravoltas. Mas não importa o quão difícil as coisas estejam, acredite: vai passar. Você só precisa estar aberto para isso e se permitir sentir, se permitir viver. E se permitir ser feliz. Você é totalmente merecedor disso.
Entrevista por Ádrian Oliveira
"Eu precisei batalhar tijolo por tijolo de tudo que conquistei até agora, e com Romance Real não vai ser diferente, por mais que o sucesso de Conectadas com certeza tenha me ajudado a começar de um ponto de partida mais avançado."
Entrevista com a autora de Conectadas e Romance Real