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Sei que minha presença por si só não é capaz de abrir portas, mas é a indicação de um caminho.

ENTREVISTA: Maria Freitas para o JULHO NB

Nino Cavalcante, autor e jornalista, entrevista Maria Freitas para o Cadê LGBT.

Para concluir a semana de entrevistas em celebração ao Dia Internacional das Pessoas Não Binárias, 14, convidamos Maria Freitas (ela/ele/they), uma das principais vozes não binárias no mercado editorial.


Maria tem 10 anos de carreira e soma mais de 200 mil livros baixados na Amazon pelo mundo e mais de 4 milhões de páginas lidas no Kindle Unlimited. Entre suas publicações estão Clichês em rosa, roxo e azul, Até logo, Violeta e Mas… e se?. Ele também trabalha como editora associado à Se Liga Editorial, professora e gerencia a própria empresa focada no ensino de marketing para escritores.


Em 2023, Maria lançou Emma, Cobra e a garota de outra dimensão, pela editora Galera Record, e participou da antologia Finalmente 15. Toda essa trajetória fez com que ele alcance a admiração e o prestígio entre seus leitories e colegas, além de se tornar referência para outres não bináries que sonham em alcançar o mercado tradicional. Sobre esse assunto e a presença de pessoas não binárias no mercado editorial, nós conversamos na entrevista que você confere a seguir.


Nino Cavalcante: Para você, qual é a importância da presença de pessoas não binárias no mercado editorial?


Maria Freitas: Tenho algumas questões em relação a essa presença, porque a minha preocupação é o fato de livros com protagonismo trans não venderem tão bem quanto livros com protagonismo cis. Há exemplos de obras escritas por pessoas não binárias, mas protagonizadas por pessoas cis, que são grandes sucessos, mas e o protagonismo não binário? Há pouco espaço para que a gente mostre que nossas histórias são boas, que merecem mais do que uma indicação em uma lista uma vez por ano. Não podemos pensar em vender apenas para o nicho, que é pequeno. Então a presença de pessoas não binárias no mercado é uma questão urgente que pode ser um caminho para mudar essa realidade.


NC: Você acha que, hoje, existe espaço para autores não binários no mercado editorial, em especial, nas editoras tradicionais?


MF: Hoje, felizmente, é possível encontrar certa variedade de autores não binários publicados no mercado independente. Mas, quando olho para editoras tradicionais, principalmente fazendo o recorte em relação aos autores nacionais, a situação ainda é preocupante. Levando em consideração grandes sucessos de vendas como Heartstopper ou Vermelho, Branco e Sangue Azul, ambos escritos por pessoas não binárias, minha avaliação é que esse espaço existe, mas ainda falta iniciativa por parte do mercado nacional em olhar com mais atenção para quem está aqui no nosso país e para obras onde o protagonismo seja não binário.


NC: Como é a sua relação com o mercado se tratando da sua identidade? Você sente que há respeito do público e dos profissionais ao se comunicarem com você ou sobre você?


MF: A verdade é que eu costumo relevar bastante coisa, mas de vez em quando me pego tendo que responder um ou outro post onde me indicam como mulher, por exemplo. Também acredito que o fato de usar os pronomes ela e ele pode deixar tudo "mais fácil". Felizmente minha comunidade de leitores é nota 10/10 em relação a isso, assim como as duas editoras onde tenho obras publicadas.


NC: Como é para você, com tantas conquistas ao longo da sua carreira, ser uma inspiração para tantos outres autories não bináries que sonham em alcançar o mercado tradicional? Além disso, qual é a sensação de lembrar que Emma, Cobra e a garota de outra dimensão chegaram nas livrarias?


MF: É uma responsabilidade porque ao mesmo tempo em que eu sei a importância de ter chegado ao mercado tradicional, sei também o trabalho que isso dá. É um cansaço físico, mas principalmente emocional. Sei que minha presença por si só não é capaz de abrir portas, mas é a indicação de um caminho.


Sobre Emma e Cobra, acredita que eu ainda não vi o livro pessoalmente em uma livraria? Morar no interior do interior tem dessas coisas. Sempre que alguém vê, tira foto e me marca eu fico muito emocionada. A ficha não caiu, acho que não vai cair nunca. Minha noiva foi viajar e viu o livro na livraria, estava logo acima do livro de um autor cuja escrita é uma grande referência para mim. Eu quase caí da cadeira quando ela me mandou a foto. E sou uma pessoa não binária do interior de Minas Gerais e meu livro está sendo vendido na mesma prateleira de uma das minhas maiores referências. Não dá pra acreditar.


NC: Que conselho você daria para autories nbs que estão começando as suas carreiras?


MF: Você vai gastar uma energia absurda para conseguir se inserir nesse mercado, então meu conselho é: cerque-se de pessoas nas quais você confia, pessoas que vão segurar sua mão quando tudo der errado, mas que também vão puxar sua orelha quando for preciso. Valorize seus leitores desde o início, muitos deles vão se tornar grandes amigos e divulgadores das suas histórias, muitas vezes mais do que você. No meu caso, eu só não abri a portinha que fica abaixo do fundo do poço porque olhei pra cima e vi quem estava lá por mim.


NC: Do que você mais sente orgulho enquanto uma pessoa não binária que escreve?


MF: Da comunidade de leitores que está comigo. Sempre que entra uma pessoa não binária nova no meu grupo de leitores (a maioria que entra é), eu sei que estou fazendo a coisa certa, que minhas histórias estão chegando em quem precisa que essas histórias existam.

Giu Domingues

Sempre que entra uma pessoa não binária nova no meu grupo de leitores (a maioria que entra é), eu sei que estou fazendo a coisa certa, que minhas histórias estão chegando em quem precisa que essas histórias existam.

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