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Está mais do que na hora de começarem a se atentar ao quadro de autores e ao quão inclusivos eles são.

ENTREVISTA: I. K. Prado para o JULHO NB

Nino Cavalcante, autor e jornalista, entrevista I. K. Prado para o Cadê LGBT.

Ainda hoje, muitos espaços de destaque, entre os autories pbulicados no Brasil, são dominados por pessoas cisgênero, mas a lógica foi se invertendo quando nomes como C.S. Pacat, Xiran Jay Zhao e Aiden Thomas, por exemplo, conseguiram chamar a atenção mundo afora e caíram nas graças do público brasileiro, conquistando fãs e movimentando bienais. Entretanto, ainda é difícil vermos autories não bináries brasileires (e trans, no geral) ocupando esses espaços no mercado tradicional.

Também entrando nessa lógica, I.K. Prado (ele), tem ampliado o espaço tanto no meio independente quanto no tradicional, com sua estreia na Editora Qualis chegando em breve.


Autor de histórias como A Herdeira do Caos, Isso não é um conto de fadas e Lou, I.K. é formado em Marketing e estudante de Design Editorial. Suas histórias permeiam o fantástico, mas de vez em quando encontram os romances. E é sobre fantasia e o espaço de autories não bináries nesse meio que conversamos na entrevista abaixo.


Nino Cavalcante: Para você, qual é a importância da presença de pessoas não binárias no mercado editorial?


I.K. Prado: Acredito que, antes de mais nada, é importante que sejamos vistos. Que cada vez mais as pessoas saibam que existimos e que percebam que não é esse "bicho de sete cabeças" que todo mundo acha que é. Que somos pessoas como todas as outras e que produzimos e criamos e construímos histórias. Assim como é importante para outras pessoas não-binárias, para que elas se sintam representadas e vejam que é, sim, possível conquistar nossos espaços.


NC: Você acha que, hoje, existe espaço para autores não binários no mercado editorial, em especial, nas editoras tradicionais?


IK: Acho que estamos começando a ganhar esse espaço agora. Temos, sim, grandes autories com trabalhos de sucesso (fora do brasil, principalmente) que são não-binários, mas que atingiram esse sucesso antes de falarem abertamente sobre sua identidade de gênero. É impossível não ficar se perguntando se eles teriam tido tais oportunidades se já fossem publicamente nbs. Mas acredito que a tendência é que, cada vez mais, nós autores conquistamos estes espaços, até mesmo pela pressão que editoras tradicionais começaram a receber pela ˜falta de autores trans. Está mais do que na hora de começarem a se atentar ao quadro de autores e ao quão inclusivos eles são.


NC: Como é a sua relação com o mercado se tratando da sua identidade? Você sente que há respeito do público e dos profissionais ao se comunicarem com você ou sobre você?


IK: Sim e não (risos). Quando assumi meus pronomes masculinos, as primeiras pessoas pra quem eu falei sobre isso foram do meio literário com quem eu tinha proximidade. Desde então, dentro do grupo de autores, profissionais da área e tudo o mais, sempre me tratam com respeito e da forma correta. Meus leitores também são maravilhosos de uma forma geral, mas é bastante comum ver em resenhas e até nas minhas DMs gente que me trata no feminino e até como mulher - mesmo que em todos os meus livros, qualquer referência a mim seja feita no masculino. Tento sempre trazer esse tópico à tona nas minhas redes sociais. Não expondo essas pessoas, mas falando sobre a importância de se atentar aos detalhes pra que esse tipo de erro seja cada vez menos comum.


NC: Você escreve histórias de fantasia e de romance. Como é navegar entre esses universos pra você? Você sente que há espaço para pessoas não binárias na escrita e no protagonismo dos livros de fantasia?


IK: Eu sempre digo que escrever, pra mim, foi uma forma de ter onde colocar as milhares de pessoas que moram dentro da minha cabeça. E sendo assim, se torna inevitável essa transição entre gêneros literários. Tive sorte de ter leitores que me acompanharam independente do caminho que minhas histórias tomavam, e acredito que isso seja porque sempre deixei claro que, apesar do gênero, eu sempre manteria meu compromisso em dar voz à personagens LGBTQIA+. Então não importa por onde minhas narrativas se desenrolem, sempre vão ser um lugar seguro e de identificação pra pessoas da comunidade queer. Em relação ao espaço para pessoas não-binárias, tenho a sensação que, assim como no mercado editorial num geral, é uma coisa que ainda está começando. Temos um caminho longo ainda até conquistarmos estes espaços com a relevância que merecemos.


NC: Em breve, você irá lançar um livro pela editora Qualis. Pode nos dar um spoilerzinho do que esperar?


IK: Meu próximo lançamento é um romance lésbico com namoro de mentira entre duas colegas de trabalho. Quando a protagonista do livro descobre que sua ex-namorada (com quem teve um término bem traumático) está de volta na cidade, convence sua colega a fingir que as duas namoram, só para sua ex não achar que ela está parada no mesmo lugar desde que elas se separaram. Vocês podem esperar bastante cenas fofinhas e muitas crises existenciais de pessoas nos seus vinte e poucos anos que sentem que ainda não chegaram onde achavam que deveriam naquela idade. Ah, e o livro se passa em Porto Alegre, então esperem muito sotaque gaúcho nele.


NC: Do que você mais sente orgulho enquanto uma pessoa não binária que escreve?


IK: Acho que meu maior orgulho é ter conseguido conquistar meu espaço. Que mesmo com todas as dificuldades, minhas histórias tenham chegado nas pessoas que precisavam se sentir representadas. Já recebi muita mensagem de leitor dizendo que não podia falar abertamente sobre a própria identidade de gênero e/ou orientação sexual, mas que se sentia acolhido pelas minhas histórias. Acho que ser uma pessoa não-binária "que conseguiu" é uma oportunidade de dar voz àqueles que ainda não podem usar a própria.

Giu Domingues

Acho que ser uma pessoa não-binária "que conseguiu" é uma oportunidade de dar voz àqueles que ainda não podem usar a própria.

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