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Eu queria contar uma história sobre estar em um relacionamento e sobre todos os desafios que vêm com isso

Entrevista com as autoras de Laura Dean vive terminando comigo

ENTREVISTA: Mariko Tamaki e Rosemary Valero-O’Connell

Autora e ilustradora de Laura Dean vive terminando comigo falam sobre os desafios de criar uma HQ em conjunto

Freddy Riley é uma garota que está apaixonada por Laura Dean, mas o relacionamento é mais complicado do que ela poderia imaginar. Laura Dean vive terminando comigo é uma HQ premiada, escrita por Mariko Tamaki e ilustrada por Rosemary Valero-O’Connell. A obra chegou ao Brasil em dezembro de 2020, pela Intrínseca, com tradução de Rayssa Galvão.


Mariana Mortani, jornalista e tradutora, se junta ao time do Cadê LGBT nesta entrevista com a autora e a ilustradora da HQ. No bate papo, Mariko Tamaki e Rosemary Valero-O’Connell falam sobre o processo de criação da história e ainda indicam suas obras LGBTQIAP+ favoritas do momento. Confira:


MARIANA MORTANI (CADÊ LGBT): Uma história em quadrinhos tem a capacidade de casar dois métodos diferentes de storytelling. Sei que trabalharam nesse livro por dois anos, então gostaria de saber como foi o processo de desenvolvimento da escrita e das artes. Foi simultâneo?


MARIKO TAMAKI: Eu escrevi o roteiro cerca de um ano antes de Rosemary entrar no projeto,  trabalhando com Calista Brill, editora da (Editora) First Second. Normalmente, escrever o roteiro é a menor parte do processo criativo de um quadrinho. Depois que Rosemary entrou nessa, tivemos algumas conversas e tentei ao máximo ser uma fonte para qualquer informação ou esclarecimento que ela precisasse. Fiquei maravilhada com as páginas quando começaram a chegar. Rosemary é incrivelmente talentosa, ela realmente deu um sopro de vida para esses personagens e para os cenários. Quadrinhos são únicos por isso. Realmente é uma história escrita por duas pessoas e em diferentes linguagens narrativas.


ROSEMARY VALERO-O’CONNELL: Mariko conceituou a história e escreveu o roteiro bem antes de eu me envolver, mas assim que fui trazida para o projeto, ela permitiu que ele mudasse e crescesse comigo enquanto eu trabalhava nele e desenvolver os visuais, os cenários, os personagens, as sensações, foi muito mais um esforço conjunto.


MM: Romances adolescentes costumam ser bem intensos, mas vocês apresentam um romance sáfico que ainda aborda temas delicados, como relacionamentos abusivos. Mariko, por que escolheu esse tema em sua primeira história LGBTQIA+?


MARIKO: Acho que muitas das histórias de romance LGBTQIA são sobre encontrar uma pessoa que também gosta de você, que ama você. E, realmente, essas histórias terminam quando o relacionamento começa. Eu queria contar uma história sobre estar em um relacionamento e sobre todos os desafios que vêm com isso. Também queria expandir a história para vários relacionamentos presentes na vida da personagem principal, especificamente seus amigos e familiares.


MM: Os personagens se tornam ainda mais reais por conta das ilustrações. Rosemary, como foi “dar vida” para personagens tão especiais e de uma autora que você já era fã?


ROSEMARY: Trabalhar com Mariko em qualquer história teria sido além da realização de um sonho, mas ter um que girasse em torno de personagens tão vívidos e afetuosos, por quem me apaixonei na primeira vez que li o roteiro, foi uma experiência ainda mais especial. Eu sabia desde a primeira leitura que queria ser a pessoa que a ajudou a trazer essa história ao mundo.


MM: A história fala muito sobre expectativas em relação às outras pessoas e esse é um ponto que acho que deveria ser mais abordado em vários livros. Vocês já se decepcionaram em um relacionamento mas acabaram vendo que vocês idealizaram a pessoa de forma errada?


MARIKO: Ninguém é a pessoa por quem você se apaixona quando você a vê do outro lado de uma sala lotada. Acho que os relacionamentos são tão complexos e cheios de nuances quanto as pessoas que estão neles, que geralmente são complexas e cheias de nuances, decepcionantes e surpreendentes. Além disso, muito do modo como os relacionamentos funcionam tem a ver com a forma como você conhece a si mesmo, como você consegue compreender suas reações e emoções.


ROSEMARY: Ah, definitivamente! Se há alguma coisa que as respostas a este livro me ensinaram, é que todos tiveram uma Laura Dean.


MM: A leitura de uma HQ se torna ainda mais especial quando conseguimos nos conectar com os sentimentos e conflitos (internos e externos) dos personagens e, nesse caso, são muitos. Mas qual é a principal mensagem que vocês esperam que o livro leve para as pessoas?


MARIKO: Eu nunca poderei dizer o que as pessoas vão tirar de um livro. Tento não ter esperanças sobre nada. Tentei escrever uma história sobre estar apaixonado com direito a todos os altos e baixos. Talvez haja leitores que encontrem essa história e se sintam um pouco menos sozinhos em seus próprios altos e baixos. Isso seria legal.


ROSEMARY: Você nunca pode saber ou controlar a impressão que suas histórias deixarão no coração de alguém, mas eu só posso esperar que dê aos leitores a mesma admiração que me deu sobre a magia das amizades queer, e lhes dê coragem para se posicionar sobre por como eles merecem ser tratados.


MM: Vocês poderiam nos indicar a sua história (livro, filme, série...) favorita com protagonismo LGBTQIA+?


MARIKO: Recentemente, gostei muito da série de TV Euphoria e do filme Ammonite. Em termos de livros, eu recomendo fortemente Juliet Takes a Breath de Gabby Rivera e Felix Ever After de Kacen Callender. Para os quadrinhos, meu favorito é provavelmente a primeira série Lumberjanes de Noelle Stevenson, Grace Ellis, Brooklyn Allen e Shannon Watters.


ROSEMARY: This Is How You Lose The Time War, de Amal El-Mohtar e Max Gladstone, e Witchy, de Ariel Ries, são duas das minhas favoritas recentes.


MM: Mariko, Rosemary, obrigada pela disponibilidade! Deixem, por favor, um recado para seus futuros leitores brasileiros.


MARIKO e ROSEMARY: Muito obrigado por deixar nosso quadrinho entrar em suas vidas! Nós te amamos!



Quer saber mais sobre Laura Dean vive terminando comigo? Veja o vídeo no canal da Mariana Mortani.


Giu Domingues

"Acho que os relacionamentos são tão complexos e cheios de nuances quanto as pessoas que estão neles, que geralmente são complexas e cheias de nuances, decepcionantes e surpreendentes."

Entrevista com as autoras de Laura Dean vive terminando comigo

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