Em Agora que ele se foi, de Elizabeth Acevedo, duas irmãs lidam com os segredos de um pai que não pode mais dar explicações
"Tenho medo de que, se eu fechar os olhos, tenha que aceitar que os dele nunca mais se abrirão."
Meu primeiro contato com a escrita de Elizabeth Acevedo foi quando li A poeta X, no início de 2020. Não consegui largar o livro e ele se tornou um dos meus preferidos. A partir daquele momento, quis conhecer mais da escrita dessa autora, o que acabou demorando um pouco. Em 2021, a Editora Nacional lançou Agora que ele se foi e, depois de terminar a leitura, concluí que Acevedo é uma das minhas escritoras preferidas.
Na história, a morte do pai em um acidente aéreo muda para sempre a vida das irmãs Camino e Yahaira. Nada será como antes, ainda mais levando em consideração que elas moram em países diferentes e ainda não sabem da existência uma da outra. Em Agora que ele se foi, Elizabeth Acevedo conta uma história sobre o luto e como ele afeta a vida das pessoas que ficam.
Camino vive com a tia na República Dominicana. Seu bairro não é dos mais tranquilos e, mesmo com dinheiro enviado pelo pai, às vezes elas enfrentam dificuldades. Ela sonha em estudar medicina nos Estados Unidos para poder ficar mais perto do pai, que a visita uma vez por ano.
Yahaira mora com os pais em Nova York e sua vida é um pouco mais confortável. Ela já foi campeã no xadrez, mas decidiu parar de competir depois de um evento traumático. Ela namora uma garota chamada Dre, e gosta de vê-la cuidando das plantas.
“Estou falando sobre a minha pele e meu lar, e principalmente sobre Dre, porque é mais fácil do que falar que Papi está morto. Se eu disser as palavras, se eu permitir que elas cortem o ar, o que quer que esteja me mantendo em pé vai se partir também.”
A partir daqui há alguns detalhes que podem ser spoiler, se não quiser saber tanto do enredo, é só pular para o penúltimo parágrafo!
O pai é um homem que morava nos Estados Unidos com a família e visitava a República Dominicana todo verão. Com a morte dele, as garotas vão acabar descobrindo a existência uma da outra. E elas também vão precisar lidar com o fato de que esse homem mentiu e, agora, não está mais presente para dar qualquer explicação.
Na história podemos acompanhar o ponto de vista das duas irmãs a partir do momento em que ficam sabendo do acidente. Camino já estava no aeroporto à sua espera e Yahaira é avisada na escola. A narrativa é em versos e o ritmo deixa a leitura mais dinâmica. Nas partes mais emocionantes, esse mesmo ritmo faz todos os sentimentos das personagens ficarem ainda mais intensos.
O luto está presente a todo momento. A morte do pai afeta a vida de cada uma das famílias de um jeito muito particular. Yahaira sempre teve o pai como um grande amigo, mas um ano antes do acidente, quando ele estava em uma de suas viagens para a República Dominicana, ela descobriu um segredo. Depois disso, a relação entre eles nunca mais foi a mesma.
Camino perde a segurança que o pai proporcionava. Vivendo em uma região potencialmente perigosa, ainda mais para meninas, uma das coisas que a mantinha segura eram os acordos que o pai fazia com pessoas do local. Sem essa proteção, além de todas as outras preocupações que envolvem seu futuro, Camino está mais vulnerável que nunca.
Cada verso é muito marcante, Elizabeth Acevedo, mostra os conflitos presentes nas garotas, sejam eles internos ou com as pessoas ao redor. Os dias passam, sempre tendo o acidente como ponto de partida, e as relações familiares ficam difíceis porque muitos segredos precisam ser falados em voz alta.
"Sou a criança pela qual meu pai a deixava no verão. Mas ela é a criança pela qual meu pai me deixou a vida inteira."
Com a potência dos versos de Acevedo, fica difícil não se colocar no lugar das protagonistas dessa história. É possível sentir a dor, o medo e a dúvida de cada uma, mas também é possível sentir um pouquinho de esperança ao entender que elas perderam muito, mas não estão sozinhas para enfrentar o que vem pela frente.
Uma curiosidade sobre Agora que ele se foi, é que a história é inspirada em um acidente aéreo real. Elizabeth Acevedo é filha de dominicanos e em 2001, um avião que ia para a República Dominicana caiu em Nova York. A maioria dos passageiros eram descendentes de dominicanos. Anos depois, pesquisando sobre o acidente, a autora descobriu várias histórias de pessoas com mais de uma família e muitos segredos que foram expostos depois da tragédia.
Essa história mexe com o nosso coração! Se você quer conhecer essa e muito mais histórias com protagonismo LGBTQIAP+, é só ficar de olho no nosso catálogo porque ele está sempre sendo atualizado!
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