Histórias com representatividade queer não começaram a ser contadas há pouco tempo
Há uma certa crença, para muitas pessoas, de que a literatura LGBTQIAP+ surgiu apenas neste século e, embora seja verdade que ela vêm crescendo muito mais nos últimos anos, é um fato inegável que muitas pessoas ao longo dos séculos já vinham pavimentando o caminho para que nós pudéssemos contar as nossas histórias nos dias de hoje.
Para se ter uma ideia, a obra contemporânea considerada pioneira em retratar uma relação entre dois homens de forma explícita, “Um Ano em Arcádia”, de Augusto, Duque de Saxe-Gota-Altemburgo, é datada de 1805, sendo um produto vindo direto do romantismo. Em 1895, era publicado, aqui no Brasil, o que viria a ser considerado como um dos primeiros romances sobre homossexualidade da literatura ocidental: “Bom-Crioulo”, romance naturalista de Adolfo Caminha que, infelizmente, ainda reforça muito o racismo.
A gente gosta de um bom clássico para se sentir um pouquinho mais cult em alguns momentos e, na esperança de aumentar cada vez mais a lista de leituras de vocês, viemos aqui apresentar alguns clássicos com representatividade LGBTQIAP+ que lemos e indicamos ou que são bem falados por nossos colaboradores!
Embora nossas dicas apresentem livros verdadeiramente representativos, também devemos lembrar que é necessário analisar o contexto em que cada obra foi publicada e como quem escreve cada uma delas possui uma bagagem diferente e conhece o movimento LGBTQIAP+ de diferentes maneiras, além de que a nossa luta na época era ainda menos evoluída do que atualmente.
O QUARTO DE GIOVANNI
James Baldwin
Lançado em 1956 e com trechos autobiográficos, esse livro fala sobre um americano chamado David que está em Paris esperando sua namorada, que está na Espanha, enquanto ela decide se quer ou não se casar com ele.
Estabelecido em Paris, David conhece Giovanni , um garçom italiano, e se apaixona pelo homem enquanto enfrenta um vazio existencial e a fragilidade dos laços e frustrações dos seus desejos.
PÍLADES E ORESTES
Machado de Assis
Lançado em 1906 na coletânea de contos “Relíquias da Casa Velha”, esse conto narra a história de Quintanilha e Gonçalves, dois homens que estudaram juntos, se separaram e voltaram a estabelecer uma relação após Quintanilha receber uma herança.
A relação de ambos gera um burburinho na sociedade e, embora não haja nada explícito na relação deles, o que torna esse conto uma obra LGBTQIAP+ é a sutileza de Machado ao dar, como título, o nome de dois personagens que são um casal em um texto de Eurípedes publicado entre 414 e 412 a.C, driblando assim a sociedade da época.
A COR PÚRPURA
Alice Walker
Lançado em 1982, a obra de Alice Walker narra a história de Celie, uma mulher pobre, negra e praticamente analfabeta, no Sul dos Estados Unidos. A jovem é brutalizada desde a infância e é obrigada a se casar com um viúvo violento, pai de quatro filhos e que a vê como uma empregada.
Em cartas endereçadas para sua irmã, missionária na África, e para Deus, Celie narra seu crescimento, suas experiências e suas amizades, incluindo a inesquecível Shug Avery, uma cantora que é responsável por uma grande melhora na rotina de Celie.
GRANDE SERTÃO: VEREDAS
João Guimarães Rosa
Lançado em 1956, o revolucionário romance de Guimarães Rosa é um grande monólogo narrado pelo jagunço Riobaldo. Em sua narrativa, Riobaldo dá dimensão ao sertão mineiro e mergulha profundamente na alma humana enquanto relembra seus tempos de jagunço, o sofrimento, a alegria, a força, a violência e o seu grande amor: seu melhor amigo Diadorim.
O romance é considerado por muitos o marco inicial da literatura trans, embora haja o debate sobre Diadorim ser mesmo uma pessoa trans ou uma pessoa designada como mulher ao nascer e que apenas se veste com roupas masculinas por estar em um meio dominado por homens.
ORLANDO
Virginia Woolf
Lançado em 1928, o livro fala sobre Orlando, jovem de boa posição na Inglaterra elisabetana que acorda em um corpo feminino durante uma viagem à Turquia.
Por ser dotado de imortalidade, acompanhamos o jovem e suas ambiguidades, temores, esperanças e reflexões em uma viagem de três séculos onde ele ultrapassa as fronteiras físicas e emocionais entre o masculino e o feminino.
CAROL
Patricia Highsmith
Lançado em 1952, Carol narra o encontro de Therese Belivet com Carol Aird. Enquanto a observa do balcão do seu emprego entediante como vendedora a jovem se encanta pela elegância e mistério que cerca Carol e, conforme as duas se aproximam e percebem que têm mais em comum do que imaginam, um romance que pode ter consequências arrebatadoras nasce.
CONTOS COMPLETOS
Caio Fernando Abreu
Caio foi um jornalista, dramaturgo e escritor brasileiro que é considerado um dos maiores contistas do país até hoje. O autor recebeu o Jabuti 一 mais importante premiação literária do Brasil 一 três vezes e, nessa obra, estão reunidos seus maiores contos, que o tornaram um dos mais prestigiados autores contemporâneos.
A coletânea de 2018 reúne contos que foram publicados entre 1970 e 1990 em seis títulos ― Inventário do ir-remediável (1970), O ovo apunhalado (1975), Pedras de Calcutá (1977), Os dragões não conhecem o paraíso (1988), Ovelhas negras (1995) e Morangos mofados (1982), sua obra mais prestigiada, ―, além de dez contos avulsos, três deles inéditos em livro.
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